11 de set. de 2013

Salvador Allende, o Fiel - 40 anos do golpe


Salvador Allende, o Fiel - 40 anos do golpe // Por Demilson Fortes
Embora a multidão nas ruas de Santiago gritasse em coro “Allende, Allende, o povo te defende”, não foi o suficiente para impedir o terror. Há 40 anos, a força bruta venceu a vontade do povo e a democracia. Com armas, tanques, aviões, os militares conservadores - e traidores -, associados com setores patronais e o governo dos Estados Unidos, deram um golpe de Estado. Conseguiram calar vozes e interromper um dos mais vigorosos e belos processos de transformação social da história.
O dia 11 de setembro de 1973 foi dramático para a esquerda chilena. O Chile quebrava a construção de um governo popular e uma tradição democrática de mais de um século. A ideia de igualdade, de partilhar a terra, de operários participarem da gestão das fábricas, de erradicar o analfabetismo e garantir educação e saúde para todos foi demais para a elite chilena. Era muita democracia.
O golpe militar pôs fim ao governo democrático e constitucional do presidente Salvador Allende. O que transcorreu após o golpe foi um massacre tanto contra seus partidários como para os lutadores sociais, lideranças populares, revolucionários, reformistas e democratas no Chile, que sentiram na própria carne a violência e o terror da direita. Foram perseguidos, presos, torturados e assassinados. Campos de tortura foram montados e opositores mortos, alguns foram lançados ao mar. O Estádio Nacional, local de alegrias e mobilizações, no golpe tornou-se um espaço de terror, palco da violência covarde contra gente desarmada, boa parte deles constituída de jovens sonhadores, que dedicavam parte da vida para a coletividade. Era interrompido ali o sonho de construir um Chile de igualdade e liberdade.
Nos anos 60, a esquerda latino-americana esteve ligada a uma ideia de guerrilhas, de tomada do poder pelas armas, a exemplo de Cuba, da tentativa de Che Guevara na Bolívia e de outras organizações. Salvador Allende quebrava um paradigma, defendendo a construção do socialismo por outra via, pelas urnas, por meio de eleições e mobilização do povo. Allende rompia também com o estilo tradicional dos políticos.
No Chile do início dos anos 70, produziu-se um movimento popular gigantesco. “Era como se o país estivesse apaixonado”, “Processos sociais que unem as pessoas assim só acontecem de 100 em 100 anos”, definiu o cineasta Patricio Guzman, que foi testemunha e documentou em vídeo esse extraordinário período histórico. No Chile de Allende “a história foi acelerada”. “Tem-se a impressão de tocar o processo social”, disse Guzman.
Estavam em curso mudanças profundas na sociedade chilena, por via democrática e pacífica. O líder cubano Fidel Castro, na época, em visita ao Chile, afirmou tratar-se de “um processo único, insólito, praticamente o primeiro da humanidade”.
Até então senador, o médico de formação, procedente da região de Valparaiso, Allende era um líder autêntico, que aglutinava pessoas e tinha uma capacidade enorme de comunicação. Quem conviveu com ele conta que era um homem culto e cordial. O próprio embaixador dos Estados Unidos reconhecia estas características no líder socialista.
Socialista de uma tradição libertária, tinha profundas convicções democráticas, acreditava na ideia da igualdade, da superação da pobreza e da capacidade dos trabalhadores se auto-organizarem e fazerem história. Acreditava que socialismo e liberdades eram compatíveis e possíveis. Para Allende, o povo chileno tinha o direito de construir um caminho autônomo de soberania e democracia com igualdade social. Conhecedor do pensamento marxista, suas influências políticas teóricas iam bem além. Elegeu-se presidente no dia 4 de setembro de 1970, em sua quarta tentativa. Uma construção de muitos anos.
Salvador Allende, do Partido Socialista, foi eleito por uma coalização de esquerda, a Unidade Popular, que aglutinava um conjunto de forças políticas com destaque para os socialistas e comunistas, mas também com participação de cristãos de esquerda, social-democratas e outros grupos de esquerda. “Sou um lutador social que cumpro uma tarefa”, dizia Allende.
O programa da Unidade Popular era ousado. E revolucionário. Propunha, entre outras ações, nacionalizar as riquezas minerais: cobre, ferro, salitre e carvão. As transformações seriam em todas as áreas - reforma agrária, reforma educacional, moradias para a população, saúde pública, cultura etc. O núcleo da economia seria nacionalizado e estatizado. Os trabalhadores participariam na gestão das fábricas, se abriria um novo horizonte de poder.
Salvador Allende venceu as eleições com 36,2% dos votos. Milhares de pessoas foram às ruas comemorar o momento histórico. No entanto, ele não obteve maioria dos votos e teve que ser confirmado pelo Congresso. Assumiu o governo, mas não tinha o poder. No governo, o projeto da Unidade Popular, radicalmente transformador, foi colocado em curso, mas em um país com instituições conservadoras, que logo mesmo antes de assumir já aparecia a oposição e as articulações dos Estados Unidos. Com minoria no Parlamento, Judiciário tradicional e mídia conservadora controlada por setores da oposição e classe patronal organizada, foi muito difícil governar. A oposição não deu trégua. O governo viveu crises.
Os problemas era internos e externos. Os Estados Unidos atuaram, desde o início, para desestabilizar o governo, boicotando-o e apoiando a oposição ao governo e ajudou a tramar o golpe, como testemunhou Edward Korry, embaixador norte-americano na época. Richard Nixon falava com ódio de Salvador Allende e estava determinado a derrubá-lo e a derrotar o governo socialista. Korry relata que, em uma reunião, presenciou Nixon golpeando uma mão sobre a outra, num gesto de esmagar Allende e usando palavras ofensivas ao se referir ao presidente chileno.
Por sua vez, a oposição apostou no desgaste e no caos e fez de tudo para inviabilizar o governo da Unidade Popular. Boicotava sistematicamente as iniciativas do governo. Provocou muitas derrotas do governo no Congresso, destituiu ministros e funcionários do governo. Foram sete ministros destituídos em três meses pelo Legislativo, que tentou derrubar todos (um total de quinze) para atingir o presidente Allende. A reforma educacional foi barrada. Mas, o Congresso queria mesmo era ter pretexto para impedir o presidente, só não o fez porque não conseguiu obter número de representantes necessários nas eleições paramentares. Alguns setores da oposição fizeram provocações constantes, ações violentas contras pessoas e contra o patrimônio. Grupos terroristas fascistas cresciam e eram tolerados e até incentivados pela oposição e pelos Estados Unidos.
O governo sofria oposição política, mas também da classe patronal - empresarial, comercial e rural -, que apostou muito no desabastecimento do país, fator econômico fundamental à população e para mover a economia. Pelas medidas tomadas, muitas importações foram prejudicadas. O país precisava efetivar o comércio internacional e obter divisas para comprar itens importantes, como medicamentos, combustíveis, alimentos, máquinas, peças, tecnologia, matérias-primas, insumos, entre outros. No entanto, a direita estava decidida, tinha estratégia, queria desorganizar o abastecimento, esgotar estoques e sabotar a produção. Tudo era válido para derrotar o governo popular.
Um dos fatores decisivos para desestabilizar o governo da Unidade Popular foram as greves dos transportadores, setor estratégico para a mobilidade de pessoas e à produção de um país. Numa delas, em outubro de 1972, 70% dos ônibus de Santiago pararam. Trabalhadores improvisaram, foram ao trabalho em caminhões, tratores, veículos de tração animal.
Em outra greve, decisiva para instaurar o desabastecimento, financiada diretamente pelos Estados Unidos, os caminhões pararam de transportar a produção, afetando os estoques e a distribuição. A corporação de transportadores paralisou milhares de caminhões e ônibus. Faltaram combustíveis e peças.
Entidades da classe patronal, meios de comunicação e parte importante da classe média chilena, apoiaram os grevistas. Mas os trabalhadores criaram lojas de abastecimento popular e comissões de bairros para enfrentar a escassez. Em todas as tentativas de desgastar o governo, o povo se organizava e dava respostas. A população mais pobre e os trabalhadores estavam com o presidente Allende.
Embora com embargos, boicotes, oposição ferrenha, ação dos Estados Unidos, o governo Allende avançava. Colocava em prática o programa que o povo elegeu. Apesar da crise, a Unidade Popular aumentou o apoio nas eleições parlamentares e frustrou a oposição, que não obteve base suficiente para impedi-lo de governar.
O Partido Democrata Cristão, na oposição, se negou a colaborar em vários momentos que o presidente Allende buscou o diálogo para acordo mínimo, mesmo sabendo que a democracia estava em perigo. Os políticos chilenos de centro, que se diziam democratas, fizeram alianças à direita e apostaram no caos para derrotar a Unidade Popular. O presidente, para contornar a crise, chamou militares para compor o governo. Entre eles estava Augusto Pinochet, general traidor que liderou o golpe e foi ditador por 17 anos.
Para piorar a situação, setores dos trabalhadores de minas de cobre fizeram greve por aumento salarial. Mineiros de “El Teniente”, que respondiam por parte significativa das divisas do Chile, pararam, afetando a produção e a economia chilena. Os mineiros não conseguiram ver o país no todo, o que ocorria no Chile, o contexto social e político, a crise e os riscos para a democracia. Faltou à categoria a visão de classe social e de futuro. A corporação e os ganhos individuais imediatos pesaram mais. Isso contribuiu para desgastar o governo.
Além disso, a coalizão de esquerda que sustentava o presidente Allende tinha as suas divisões internas. Alguns apostavam na radicalização, outros na via mais moderada. Havia avaliação equivocada de setores mais extremistas de esquerda, que, em meio à paixão da causa e enfrentamento de classes, não conseguiram ver os riscos por que passava o país e os limites que a conjuntura apresentava ao governo. Mas, o certo que a base social tensionava por mudanças e colocava o governo em difícil situação.
Os meios de comunicação chilenos, dominados pela oposição, ajudaram a desestabilizar o governo popular. As Forças Armadas, treinadas nos Estados Unidos, traíram o presidente e seus próprios integrantes, pois os militares que defendiam a Constituição foram assassinados. Da mesma forma, líderes empresariais faziam cursos com instituições norte-americanas, financiados pela CIA. Tinha-se no país, portanto, estruturas conservadoras organizadas, de comunicação, empresarial e militar, com vínculos e compromissos ideológicos estreitamente ligados aos interesses dos Estados Unidos. Isso deu base estrutural e doutrinária para o golpe.
Até a madrugada de 11 de setembro de 1973, o Chile tinha um líder democrático, utopia, sonhos, operários organizados nas fábricas e o povo na rua. Mas, em seguida, estava derrotado e desmobilizado. Seguiram-se longos anos de uma ditadura covarde e cruel, que sufocou liberdades, silenciou o pensamento crítico, torturou e matou seus opositores. De uma ditadura que privatizou o país. Regime violento que se impôs pela força e pelo medo. Em 2011, o relatório da Comissão da Verdade (Comissão Valech) informou que foram mais de 40 mil vítimas da ditadura de Pinochet, entre mortos, desaparecidos e torturados. Mas, alguns estimam ser bem maior o número de vítimas.
As intervenções do presidente Salvador Allende nunca deixaram dúvidas do seu compromisso com a transformação, mas também com as liberdades. Em uma delas afirmou: “Uma revolução por uma via distinta, de acordo com nossa história, tradição e realidade. Espero que sejamos capazes de escrever uma página a mais para mostrar que o Chile tem sua própria vontade criadora”.
Na crise aguda, ouvindo gritos sugerindo fechar o Congresso, ele respondeu para a multidão: “Não vou fechar o Congresso”, justificando que queria para o Chile uma sociedade “pluralista, de democracia e liberdade”. “Se necessário, enviarei projeto sobre plebiscito para o povo decidir sobre a situação”, indicou. Tanto que, três meses antes do golpe, Allende foi ao parlamento e reafirmou seu compromisso com a legalidade e com a transição pacífica e democrática para o socialismo. O presidente pretendia propor um plebiscito para a população decidir o futuro do país, mas, infelizmente, não teve a chance.
Ficou um vazio de povo. Ficou a ausência de Salvador Allende. A esquerda latino-americana perdeu um líder insubstituível. Para os derrotados, indignação, dor, perdas e impotência. O mundo perdeu a possibilidade de uma experiência de transição ao socialismo com democracia e liberdades plenas. Um tempo irrecuperável.
No 11 de setembro de 1973, foi derrotado um país em que o sonho, a alegria, o entusiasmo coletivo e o extraordinário se materializaram nas esquinas, ruas, praças, escolas, vilarejos e fábricas. O futuro já não pertencia mais a todos. Poucos meses antes do golpe, houve a maior manifestação da história do Chile até aquele momento, mais de meio milhão de pessoas foram as ruas manifestar apoio ao seu presidente, chegavam de todos os lados. Foram a pé, de bicicletas, de ônibus, de carroças ou de tratores. Nada foi suficiente para impedir o golpe. Venceu a barbárie.

O Chile do governo da Unidade Popular tinha uma população mobilizada, porém, sem armas. “A lealdade do povo, responderei com a lealdade de um militante socialista”, afirmou Allende, em uma das suas falas, para a multidão, que o escutava, .O socialista Salvador Allende foi fiel, até o fim.

13 de mai. de 2013

Que venham os médicos cubanos, americanos, uruguaios, canadenses.......



Tenho certeza que se uma mãe ou um pai chegasse com um filho doente nos braços em um hospital no interior e recebesse o atendimento imediato de um profissional estrangeiro custeado pelo SUS, ninguém se importaria com sua origem. Se fosse um americano talvez até recebesse elogios dos colegas brasileiros, mas com o corte é político e ideológico a coisa muda no caso do acordo entre os governo do Brasil e Cuba. O governo negocia a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalharem nas regiões brasileiras mais carentes, na maioria nos rincões do Brasil.

Se a maioria dos médicos brasileiros não desejam trabalhar no interior e muito menos nesses rincões, há profissionais que se dispõem. Em Portugal, por exemplo, médicos cubanos já fazem parte do dia a dia daquele país desde 2009, pois lá também os médicos da terrinha se inclinam a não ir clinicar no interior. Para mim fica claro que a intenção do governo é a de apenas importar profissionais de qualidade, com foco em medicina de família, para atender uma necessidade existente.

Lamento que a classe médica, na maioria formada em universidades públicas financiadas pelos impostos do povo brasileiro, não retribua o devido retorno para quem realmente os banca. Lamento mais ainda que estudantes de medicina comprem esse pacote fechado vendido pela grande mídia, num claro interesse corporativo e de olho nas eleições presidenciais de 2014.

Também não dá pra entender essa história de criar carreira de Estado para médico com salário de juiz ou promotor conforme clama os órgãos representativos da classe médica. De cara dá pra ver que a ambição é criar uma categoria acima de todas as outras no Estado e com status do poder semelhante ao do Poder Judiciário. Considerando que os médicos são a segunda bancada no Congresso Nacional e fazendo um pequeno exercício mental, dá pra ver onde isso vai dar a logo logo.

Que venham os médicos uruguaios, argentinos, americanos,canadenses,japoneses, coreanos e, é claro, os cubanos.

Abaixo coloco o link de um excelente texto escrito por um médico sobre a vinda dos cubanos que vale a leitura: http://www.viomundo.com.br/politica/pedro-saraiva-sobre-a-vinda-dos-6-000-medicos-cubanos.html

27 de mar. de 2013

Frente Parlamentar coloca a Reforma Política na pauta da Assembleia



Na manhã desta quarta-feira (27/03), será protocolado na Assembleia Legislativa o requerimento de composição da Frente Parlamentar em Defesa da Reforma Política, que tem a assinatura de 30 parlamentares de várias bancadas da Casa. Proposta pelo deputado Raul Pont, a frente irá debater e acompanhar os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e outros que possam surgir de iniciativa popular e que tratem da reforma do sistema político-eleitoral. “A estrutura atual, proposta na Constituição de 1988, é muito limitada e apresenta uma série de distorções. É preciso atualizar a lei para fortalecer a democracia brasileira”, disse Pont.

Uma das primeiras atividades propostas é uma audiência com o deputado federal Henrique Fontana, relator do projeto da reforma política que deve entrar na ordem do dia da Câmara no próximo dia 9/4. “Não podemos ficar alheios à espera do que vai ocorrer. Vamos debater as concordâncias, as divergências e conhecer os pontos que avançaram. Esse será o projeto mais importante do ano e que terá reflexos no futuro da democracia e dos partidos no Brasil”.

Para Pont, o Brasil precisaria avançar em cinco pontos principais nessa reforma: o financiamento público de campanha, o voto em lista pré-ordenada, coligações em campanhas majoritárias, fidelidade partidária e maior participação das mulheres com 50% de proporção. “O sistema de financiamento público de campanha com listas preordenadas hierarquiza os candidatos pelo conhecimento e pela escolha interna nos partidos, diminuindo proporcionalmente o peso do dinheiro nas campanhas. Esse é um princípio já adotado na quase totalidade dos sistemas políticos modernos, bem mais representativos e eficientes do ponto de vista da composição de um sistema político-partidário sólido”, explica.

Por Paula Coruja.